Primeiro ensaio em humanos de terapia gênica CRISPR para tratar o HIV

O primeiro ensaio clínico em humanos com terapia gênica utilizando o sistema CRISPR-Cas, realizado por meio do vírus adeno-associado 9, para tratar o vírus da imunodeficiência humana (HIV) foi capaz de atingir apenas o DNA pretendido e depurar o sangue em seis meses.

A EBT-101-001 é a primeira terapia gênica administrada por via intravenosa desenvolvida para combater o genoma pró-viral latente do HIV com um multiplex CRISPR-Cas9.

Os resultados da fase 1/2, apresentados na International AIDS Conference de 2024, são “um primeiro passo”, disse a Dra. Rachel Presti, Ph.D., médica e diretora clínica da unidade de pesquisa clínica de doenças infecciosas da Washington University, nos Estados Unidos.

“Este estudo é incrivelmente único”, acrescentou a Dra. Chantelle Ahlenstiel, Ph.D., pesquisadora sênior em imunologia viral e patogênese no Kirby Institute na University of New South Wales, na Austrália. “Foi um estudo de alto risco que mostrou um perfil de segurança muito promissor”, disse ela.

O ensaio foi realizado com seis pacientes divididos entre dois grupos de níveis de dose: 0,9 x 1012 e 3 x 1012 genes vetoriais por quilo, sendo este último chamado grupo de alta dose. O vírus adeno-associado 9 tem como alvo as células T CD4+ que abrigam o provírus latente do HIV. Quatro dos antirretrovirais dos participantes foram interrompidos 12 semanas após a infusão. Os intervalos pós-dose variaram de 2 anos a 10 semanas.

“Não houve dano de DNA fora do alvo identificado até agora”, disse a Dra. Rachel.

O tratamento encontra seu alvo

A terapia tem seu alvo, explicou a Dra. Rachel, “mas obviamente continuamos acompanhando esses pacientes”.

Os níveis de RNA do HIV se recuperaram nos quatro participantes que tiveram interrupção do tratamento antirretroviral. No entanto, em um paciente a recuperação foi tardia e ocorreu após quase 16 semanas, juntamente com uma queda significativa no reservatório viral.

“Este é o resultado mais promissor, mas visto apenas em uma pessoa”, disse a Dra. Rachel durante uma entrevista. Um participante teve uma queda na contagem de CD4+, portanto não pôde interromper o tratamento antirretroviral, e outro não atingiu o marco de 12 semanas para interrupção.

Durante o período de interrupção, nenhum dos pacientes apresentou síndrome retroviral aguda, disse ela.

“Esses parâmetros exploratórios sugerem que pode ter havido algum efeito em pelo menos um participante, e estamos tentando avaliar o que havia de diferente naquela pessoa e como podemos aprimorar isso”, explicou a Dra. Rachel.

“Acredito que, com os produtos da próxima geração de terapia, poderíamos obter um direcionamento mais eficiente do vetor e melhorar a especificidade da terapia também”, continuou.

Nenhum dos participantes do estudo teve quaisquer eventos adversos graves, embora nove eventos adversos de baixo grau relacionados ao tratamento tenham se manifestado nos seis pacientes.

A Dra. Chantelle disse que o pequeno estudo mostrou “diminuições bastante variadas” no reservatório latente do HIV entre os participantes. Observou-se também que as duas sequências de RNA guia (gRNA) para CRISPR projetadas para o subtipo B apresentaram múltiplas incompatibilidades com as sequências do vírus do subtipo B em alguns dos seis participantes.

“Será importante conceber mais gRNAs que sejam altamente conservados em todos os subtipos de HIV, a fim de criar uma terapia genética do vírus aplicável globalmente”, disse ela.

É provável que as pessoas com um reservatório viral menor e mais simples, com tratamento antiretroviral consistente, tenham maior probabilidade de obter benefícios, disse a Dra. Rachel. “Isso se deve ao fato de que há menos variabilidade no reservatório e no sistema imunológico que precisam ser medidos e atingidos.”

Este conteúdo foi traduzido do Medscape

FONTE: https://portugues.medscape.com/verartigo/6511552?form=fpf